...franchona, gobe, lésbica, lesbian-chic - são apenas pejorativos que dispenso: quero ser tratada como um ser humano com os mesmos direitos e deveres de qualquer ser humano. Creio que o importante é o meu caráter, a minha honestidade, a minha sensibilidade, a minha conduta social, o meu amor ao próximo... Mas as pessoas se chocam quando troco gestos de carinho com minha companheira em público: se eu batesse em outra mulher ao invés de acariciá-la não se chocariam - ficariam até esfuziantes, gritando, incitando a violência. Com a violência, a fome, a corrupção e o desrespeito ao próximo as pessoas não se chocam mais - e foi a banalização e a omissão em relação a aspectos vitais que fizeram com que a humanidade chegasse a esse caos no qual vivemos. Alguns alegam que o fato de eu namorar minha companheira em pública pode prejudicar a mentalidade de uma criança que presencie a cena - Mas o que prejudica uma criança é presenciar o pai e a mãe brigarem, o que instabiliza a mente de uma criança é assistir filmes e desenhos violentos, obscenos ou ser submetida a tais atos. Mas os meus gestos de amor com minha companheira não são obscenos: não fazemos sexo explícito em público como muitos casais constituídos por heteros fazem. E é com essa companheira (que amo e que me ama, que me respeita e que respeito) que pretendo viver em paz os últimos dias da minha vida - sim, eu amo uma mulher: mas eu não sou sapatona... calço apenas 36.
O texto acima foi escrito por Heribaldo de Assis: escritor, poeta, filósofo, compositor, redator-publicitário e licenciado em Letras pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC.